segunda-feira, 24 de maio de 2010
JORGE RIZZINI E O ESPÍRITO DE CASTRO ALVES
JORGE RIZZINI E O ESPÍRITO DE CASTRO ALVES
Encontramos na internet, citando como fontes a Biblioteca Virtual Espírita - www.bvespirita.com – e www.consciesp.com.br - o artigo intitulado CASTRO ALVES FALA À TERRA, do notável professor espírita José Herculano Pires.
Nesse artigo, o professor analisa as poesias mediúnicas do grande poeta brasileiro Castro Alves, obtidas através da mediunidade de Chico Xavier, Waldo Vieira e Jorge Rizzini.
Diz o professor que o problema da literatura mediúnica é ainda um mistério para a maioria dos homens de letras e um desafio para os homens de ciência.
Então, esclarece que só admitimos a poesia mediúnica se pudermos admitir a dualidade relativa de que fala Rhine, entre espírito e corpo, consequentemente entre vida corporal e vida espiritual. Uma dualidade de situações, de condições e de atitudes do ser nos dois planos de existência: o espiritual e o material.
OS POEMAS E OS MÉDIUNS
Os poemas mediúnicos de Castro Alves, analisados por Herculano Pires em seu artigo, foram recebidos por três médiuns bastante diferenciados: Chico Xavier, Waldo Vieira e Jorge Rizzini, no período de 1931 a 1971. A marca do poeta é a mesma em todos eles.
Há, sem dúvida, algumas variações no uso dos vocábulos e de metáforas nas poesias recebidas pelos três médiuns. Mas isso equivale às variações irrelevantes na tradução de um discurso por três intérpretes diferentes: são as marcas individuais a que não se furta nenhum trabalho humano. O que importa não são os pormenores, mas o conjunto de cada peça poética.
Para os que entendem do assunto, trata-se de uma das mais belas provas de que o Espírito é sempre o mesmo, através de todos os intérpretes mediúnicos de que possa utilizar-se.
Se o Espírito, às vezes, se apega a um determinado médium, a razão está no campo das afinidades pessoais, da maior maleabilidade do médium preferido ou da sua condição psicológica mais favorável.
O CASO RIZZINI
Diz o professor Herculano Pires que o caso Rizzini é o mais recente, recentíssimo, e poderá suscitar discussões.
Jorge Rizzini é paulista e fez a sua carreira em São Paulo como jornalista, escritor, radialista e homem de televisão. Médium desde criança, só há alguns meses revelou sua mediunidade psicográfica.
A mediunidade Rizzini eclodiu num verdadeiro ímpeto, levando-o a receber, num período de três meses, poemas de dezenove poetas brasileiros e portugueses, os maiores da língua, que constituem dois volumes em fase de organização para o prelo: ANTOLOGIA DO MAIS ALÉM e SEXO E VERDADE (1). Pertencem a esses volumes os poemas de Castro Alves que foram analisados.
Herculano Pires esclarece que Rizzini passou por uma crise de consciência antes de admitir a divulgação dos poemas que recebera. Não podia publicá-los como de sua autoria e temia revelar os autores espirituais, em face da geral incompreensão do problema mediúnico.
Mas prevaleceu a verdade, que se impôs de tal maneira a lhe dar coragem para enfrentar a situação.
Será fácil para os adversários inescrupulosos do Espiritismo acusá-lo de pasticho. Mas para os estudiosos honestos, espíritas ou não, os poemas por ele recebidos valerão por si mesmos.
Os dotes literários e a cultura de um médium não são barreiras, mas valiosos recursos para a manifestação psicográfica nesse campo.
O valor das peças recebidas deve ser aferido pelo critério de um julgamento objetivo e não pela falácia das hipóteses agüentadas.
Ainda explica o professor Herculano Pires: acompanhamos passo a passo a eclosão da mediunidade psicográfica de Jorge Rizzini, que ocorreu acompanhada de fenômenos telepáticos e físicos.
Atesta: conhecemos o médium há muitos anos e conhecemos também as suas possibilidades profissionais.
No tocante à poesia, as tentativas pessoais de Rizzini foram sempre irrelevantes.
O que ele nos oferece pela psicografia não tem termo de comparação com as suas tentativas particulares e revela conteúdos inegavelmente autênticos em referência aos poetas comunicantes.
No caso de Castro Alves essa autenticidade se impõe através de toda uma constelação de motivos.
Completa o professor: nos poemas recebidos por Jorge Rizzini o poeta é o anjo vingador, o defensor dos escravos. Sua voz é a primeira a se levantar contra a escravidão sensorial das criaturas humanas pelos verdugos demoníacos do Umbral, das regiões infernais.
O sexualismo desenfreado que avassala a Terra encontra nos versos de Castro Alves redivivo a mesma vergasta que fustigou os algozes do Navio Negreiro.
O mural poético da prostituição é escavado no mármore da História a golpes de Miguelangelo.
Poemas como O Sexo no Mundo e Sexo e Infância valem por clarinadas de luz rompendo as trevas.
E que dizer de Piedade, esse grito de dor através do qual o poeta volta a querer apostrofar o próprio Criador?
A estrofe de abertura desse poema dá-nos a imagem cósmica de um navio negreiro da era espacial "vagando pelo espaço, embuçado pela noite".
Mas nesse poema o que impera é a dor, nota dominante que goteja de cada verso num compasso único, num ritmo de soluço, desde a primeira à última estrofe.
Neste poema vemos Castro Alves acabrunhado, vencido pela sua própria piedade, implorando de joelhos a piedade de Deus para a Humanidade terrena. É em vão que o seu verbo de fogo tenta elevar-se nas labaredas da apóstrofe. A dor pesa nas asas do condor e ele se curva humilde, rogando piedade.
Haverá sempre quem aponte defeitos, vacilações, momentos de frouxidão nesta ou naquela estrofe dos poemas que nos chegam do Além.
Que importam as possíveis falhas de capitação mediúnica, diante da força e da beleza de cada poema no seu conjunto?
A concepção de cada um desses poemas só encontra, em nossa poética de ontem e de hoje, uma fonte possível: Castro Alves.
E se eles não existissem, não tivessem sido captados mediunicamente e publicados, a poesia brasileira, num sentido geral (mediúnica ou não) seria mais pobre em seu conteúdo humano.
(As palavras acima do professor José de Herculano Pires foram extraídas do seu artigo CASTRO ALVES FALA À TERRA, escrito em São Paulo, em 1971. O texto completo do professor José Herculano Pires pode ser encontrado no Google, Castro Alves Fala à Terra.)
(1) Os livros psicografados por Jorge Rizzini, contendo os poemas mediúnicos de Castro Alves, foram lançados pelas editoras Lake, de São Paulo, e "Correio Fraterno do ABC".
A SEGUIR APRESENTAMOS DOIS POEMAS SOBRE ALLAN KARDEC E O ESPIRITISMO, DO ESPÍRITO DE CASTRO ALVES, PSICOGRAFADOS PELO MÉDIUM JORGE RIZZINI, PARA AVALIAÇÃO DO ESTILO DO AUTOR.
O ELO PERDIDO
Era a promessa do Cristo
Que iria cumprir-se à Terra,
Apesar do horror da guerra,
Primeiro em solo francês.
Enquanto os Céus se moviam,
Montesquieu, Robespierre,
Jacques Rousseau, D'Alembert,
Incitavam morte aos reis!
Em seguida Bonaparte,
Na Espanha, Portugal, Prússia,
Alemanha, Itália, Rússia,
A explodir os seus canhões!
Fizera-se ditador:
Ao invés de "Fraternidade,
Liberdade e Igualdade",
Impunha ódio e aflições!
E o pensamento parara!
Impotente em face à Morte,
Não via a Ciência um norte,
Além da matéria impura...
Religião era um sonho!
E a pobre Filosofia,
Nas trevas se debatia,
Sem escapar da clausura!
E a Humanidade gemia...
Mas sobre o mundo trevoso,
Descera gênio bondoso
Enviado por Jesus!
Morrera Napoleão...
E Kardec, à meia idade,
Com o Espírito Verdade,
Das trevas arranca a Luz!
E os Mensageiros do Cristo
A Kardec vinculados
Gritavam de todos lados:
"Somos o elo perdido! "
Vasto horizonte se abrira,
Com Kardec, homem profundo,
Ao mostrar um Novo Mundo,
Apenas antes sentido!
Velhas leis e velhos dogmas
Enterraram-se no abismo...
Ganha o mundo o Espiritismo!
A mais sublime Verdade!
Descoberto o "Elo Perdido",
A Fé uniu-se à Razão!
Ciência à Religião!
E o Homem à Divindade!
Era a própria voz do Cristo
De novo acordando a Terra!
"Não mais opressão e guerra,
-Discórdias e nem rancor!
Minha Doutrina é bem clara:
Perdoa ao teu inimigo!
Recolhe o triste mendigo!
Espalha bondade e amor!"
Avante, Espírita, avante!
E como Kardec, grita,
Que esta Doutrina Bendita,
É Luz, é Renovação!
E, onde quer que estiveres,
Proclama a grande verdade,
Que fora da caridade
Não pode haver salvação!
Médium: Jorge Rizzini.
Da obra “Antologia do Mais Além”.
LUZ E TREVA
I
Foi Jesus Cristo quem disse
Sob a inspiração de Deus:
“Vai, Allan Kardec, à Terra
E fala aos rebanhos meus.
Tira o povo da heresia!
A minha Doutrina amplia!
Cumpre a antiga profecia
Que fiz perante aos judeus!
Como na dura Judéia
Não temas tua missão:
O Espírito Verdade,
-Eis teu Anjo Guardião!
Aumenta as glórias no Céu!
Conquista mais um troféu!
Destrói na Terra esse véu,
Que esconde o Sol da Razão!
E o Apóstolo dileto
Despediu-se de Jesus,
E como um condor fantástico
-Mais veloz que a própria luz-
Ao lado de outros heróis,
Como ele mesmo – faróis!
Passou por milhões de sóis,
- E em Lyon viu sua cruz!
Encarcerando na carne,
-Gigante dentro de um ovo!
Ei-lo que vai ressurgir
Na bela Gália de novo!
E mais tarde, com cautela,
O Além pesquisa, interpela,
E finalmente revela
A Doutrina para o povo!
É epopéico seu trabalho
Com o Espírito da Verdade;
Galileu desvendou mundos,
Mas Kardec – a Eternidade!...
Com a chave da Ciência
Provou a Sobrevivência!
Descobriu a existência
De outras Leis da Divindade!
E o sábio deixa este globo
E volve saudoso à Luz!
Depois dos Grandes Mentores
Quem vem saudá-lo? – Jesus!...
E viram todos então,
Na Terra o imenso clarão:
-Era a Codificação
Que a Deus o Homem conduz!
II
Mas a Treva, furiosa,
Disse consigo em surdina:
“Apaguemos essa luz,
Que há de ser nossa ruína!
Infiltremos o anarquismo
Nas obras do Espiritismo,
E há de rolar pelo abismo
Quem pratica essa Doutrina!
Fizemos do Cristianismo
Uma crendice que aterra!
Que resta de Jesus Cristo
Na Itália, França, Inglaterra?
Chega ao mundo nova aurora?
O Alto nos mete a espora?
Marchemos! Chegou a hora!
Estamos de novo em guerra!
E a Treva ataca na França...
Brada um líder fariseu:
“Roustaing! Arrasa Kardec
Com as bombas que o Umbral vos deu!...
Médiuns! Pegai a caneta!
Vede o Cristo... A silhueta!
Quer ditar para o planeta
Sua vida quando hebreu!”
Da Espanha que viu nascer
A nobre Amália Soler
-Amália, luz fulgurante!
Sol com forma de mulher!-
A Treva cruza a fronteira
E sopra ao clero: “Fogueira!
Da Obra do Além altaneira,
Não reste a cinza, sequer!”
E pela América, Europa,
A Treva deixa sinais...
Quantos médiuns arrastados
À sala dos tribunais!
Viram bem perto o chicote,
Leymarie, Slade, Ana Rothe,
Orando, - à luz de uma archote,
Na prisão – como animais!...
E a Pátria do Evangelho?
Não foge a tropa do Mal?
Ramatis – clarim das sombras!
Tombou já do pedestal?
E a Treva horrenda e devassa
Proclama em grande arruaça:
“Com discursos e trapaça
Venceremos, afinal!”
E a mente da Treva insana
Não dá trégua contra a Luz!
Recruta e põe nas tribunas
Muitas almas de capuz...
Mas descendo do Infinito
À Terra lanço meu grito:
-Está no Céu já escrito:
O TRIUNFO É DE JESUS.
Espírita, companheiro,
Não te alheie a batalha.
A verdade – é tua arma!
A prece – tua muralha.
Conserva pura a doutrina
Que reflete a Luz Divina!
E já – confiante – em surdina,
Com Jesus Cristo – trabalha!...
Médium: Jorge Rizzini.
Da obra “Antologia do Mais Além”.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
JORGE RIZZINI E O ESPÍRITO DE MÁRIO DE ANDRADE
JORGE RIZZINI E O ESPÍRITO DE MÁRIO DE ANDRADE
Jorge Rizzini estava prestes a publicar o seu livro espírita “ANTOLOGIA DO MAIS ALÉM”, quando recebeu importante apoio do jornalista Valentim Lorenzetti para a sua divulgação.
Esse jornalista publicou na edição de 22 de abril de 1971, do jornal FOLHA DA TARDE, de São Paulo, o seguinte artigo contendo um poema muito interessante do Espírito do valoroso Mário de Andrade, falando da falta de preparação da sua alma para a viagem para a vida espiritual.
Pela consistência desse poema com os princípios do Espiritismo, deve ser lido e analisado com calma e atenção. Deve ainda servir de alerta para a nossa preparação para a vida futura, pela prática do Amor e da Caridade, conforme nos ensinou e exemplificou Jesus, em função da sobrevivência da alma à morte do corpo material.
NOTA: Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo-SP, em 09 de outubro de 1893 e faleceu em São Paulo, em 25 de fevereiro de 1945. Foi poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo, professor universitário e ensaísta. É reconhecido como um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século XX. Liderou o movimento modernista no Brasil e trabalhou na renovação literária e artística do país. Participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922. Fonte: Wikipédia.
A VOLTA DE MÁRIO DE ANDRADE
Por Valentim Lorenzetti
Jorge Rizzini, escritor e jornalista, é também médium psicógrafo.
Ultimamente vem recebendo poemas e poesias de alguns dos grandes escritores do passado, como Castro Alves, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Camões e Guerra Junqueiro.
Em cerca de dois meses, recebeu um elevado número de obras, que estarão enfeixadas no livro “Antologia do Mais Além, já pronto para impressão.
De Mário de Andrade, Rizzini recebeu o poema “Viagem Marcada”, em que o grande escritor brasileiro narra suas surpresas de além túmulo.
Vamos transcrever o poema; os conhecedores do estilo de Mário de Andrade que o analisem:
VIAGEM MARCADA
A viagem era obrigatória
Mas não guardei os cuidados.
É p’ra hoje ou amanhã? Que importa!
Maria, traz o uísque,
E dá cá um abraço de vinte e quatro horas. Sem gelo...
E a viagem?
Não esqueci, mas o baú fica p’ra depois.
O maxixe está roncando
P’ras bandas do Paiçandu
E as mulatas vão gingando
No parque do Anhangabaú;
E estas circulações, ah!
Que bem fazem à circulação do sangue...
É tarde. Não esqueças a viagem!
Eu sei, anotei-a em minha agenda,
Mas só embarco no trem noturno
Depois de reler o meu Poe
E lavar o poema que nasceu ontem
Pela madrugada sangrenta.
Afinal, por que não transferem a viagem
Para o ano dois mil?
Sinceramente, não estou querendo deixar o Brasil...
E o tempo foi passando;
A viagem era obrigatória
E não havia moratória...
E o uísque ali, ao meu lado,
Entre as risadas dos amigos
E o sussurro das noites que ninguém conta,
Nem eu, nem os livros do meu reler
E nem as paredes do meu viver...
E o tempo passando...
A viagem (já lhes disse e reafirmo) era obrigatória,
Que o chefe do trem já tinha
Cópia do meu retrato, carimbado na passagem.
E a data era bem legível
Com a seguinte anotação: intransferível...
E embarquei no trem noturno
Sem tempo de me arrumar
Trazendo nas mãos nada mais
Que os calos da máquina de escrever.
E atravessei o Vale das Sombras
Que vós também conhecereis,
Que o retrato de Vossas Senhorias
Também já está carimbado e com data marcada.
Que faço eu agora, nestes ares,
Se não achei meu baú?
Sim senhores, estou quase nu
E me sinto envergonhado.
Se pudesse, vestir-me-ia com a cultura.
Com meus poemas, contos, romances,
Com o tempo que deixei vazar...
Mas neste país nada disto conta
E a roupa que aqui se usa
É confeccionada com o Amor e a Caridade,
Moedas raras na Terra
E que não tive o tempo de recolher
Para as aventuras do mais viver!
Sim senhores, estou quase nu
E me sinto envergonhado.
Se Deus quiser, voltarei
Para encher meu baú...
Enquanto isso, que meus amigos na Terra
Vão rezando por mim,
Para que a luz me aqueça nestas noites do sem fim...
Por enquanto, o meu muito obrigado,
Que o abraço virá depois
Apertado e sincerado!
(Artigo de Valentim Lorenzetti, publicado no
jornal Folha da Tarde, em 22/04/1971).
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