

JORGE RIZZINI E O POEMA DE NATAL DO ESPÍRITO GUERRA JUNQUEIRO
O Espírito de Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Portugal, 17/set/1850 a 07/julho/1923) escreveu inúmeros poemas através da mediunidade de Jorge Rizzini.
Assim, deu provas da sobrevivência da alma à morte do corpo material, revivendo sua forma poética peculiar de expressão.
Neste tributo a Jorge Rizzini, e em comemoração ao Natal de Jesus, reproduzimos abaixo um dos maravilhosos poemas desse Espírito poeta, intitulado:
O NASCIMENTO DE JESUS
Oh, que noite fria em toda a Palestina!
Tremem estrelinhas pelo céu fulgente...
Ninguém pelas ruas, ninguém na campina...
Só os cães sem dono vagam pela esquina,
A ladrar à lua, dolorosamente!...
Mas, já pouco a pouco vem rompendo o dia...
Deus recolhe os astros, já guardou a lua...
Já não é tão frio... Foi-se a ventania!
Já os galos cantam, canta a cotovia,
E os cães se alegram com o sol na rua!
Palestina acorda... Mas, em Nazaré,
Já faz muito tempo despertou Maria...
Ei-la em um burrico que comprou José!
Vai sentada ao lombo e o marido a pé,
Ambos p’ra Belém antes que finde o dia!
O recenseamento era obrigatório.
Era Lei de Roma; proclamara Augusto!
E José e Maria vão para o cartório,
Toc, toc, toc, p’ro interrogatório,
Num jerico velho, animal sem susto!
E o jerico manso com intrepidez,
Toc, toc, toc, vai estrada afora,
Com Maria em cima já com palidez,
Pois tem dores fortes – oh, é a gravidez?...
Ai, meu Deus, não deixe que lhe chegue a hora!
Mas, Belém já surge pequenina e bela!
Com a lei de César, quanto povo à rua!
E José procura com Maria à sela
As hospedarias, mesmo sem janela,
Onde o sol não bate nem a luz da lua!
“Oh, meu Pai Divino, que a minh’alma adora!
Vem baixando a noite e não se encontra um quarto!”
E Maria ora, pois José demora,
Procurando longe p’ra Nossa Senhora,
Um local qualquer onde se faça o parto!
E o burrico meigo de pêlo castanho,
Ao ouvir Maria soluçar na prece,
(Curioso bicho! Que animal estranho!)
Nos seus olhos claros, claros como o estanho,
Uma gota d’água, trêmula, aparece!...
Mas, não pressentiu o que notou Maria...
Da sentida prece Deus estava à escuta!
Já por sobre ambos, oh! que luz havia!
E José guiado por sublime Guia
Comunica, alegre: “-Encontrei uma gruta!”
E p’ra bem distante, toc, toc, toc,
Vai o burriquito; como é delicado!
Vai devagarinho, toc, toc, toc,
Sem pisar em pedra, evitando choque,
Como se soubesse de Maria o estado!
Vira, sim, José naquela noite escura
Colossal rochedo com um buraco fundo;
Ter um parto ali? Era uma aventura!
Mas o Guia disse:”-Cumpra-se a Escritura...”
E nasceu Jesus, o Salvador do Mundo!
Quem testemunhara o epopéico lance?
Nem o bom jerico e nem sequer José...
Mal entrou na gruta o médium teve um transe!
E o jerico amigo – que ninguém avance!
Não saiu da entrada, vigiando em pé!
Mas, na solidão da madrugada fria
A velar no campo rebanhos de ovelhas,
Dez pastores viram – como ele luzia! –
A descer do espaço o mensageiro, o Guia,
Fulgurante estrela a irradiar centelhas!
“Meus irmãos (lhes disse) trago a Boa Nova!
Vão-se transformar deste planeta as leis.
O Messias veio! Disso eu vos dou prova:
Na montanha bruta Deus fez uma alcova,
Onde está o Infante que é o Senhor dos Reis!...
Como vós é humilde e em manjedoura jaz,
Envolvido em faixas de tecido novo!
Glória a Deus na Altura! Fique a Terra em paz!
Ide agora vê-lo, que isso vos apraz,
Mas o que vos conto divulgai ao povo!...
E os pastores viram que dos Céus descia
Legião de Luz (oh, que visão fulgente!):
Os Titãs de Deus a arrebanhar o Guia,
E, em cintilações brilhantes como o dia
Dirigir do espaço os Magos do Oriente!
Contemplava a Mãe ainda em seu regaço
A criança linda, seu maior tesouro!
Que olhinhos puros! Como estica o braço!
Com apenas horas já quer dar o passo...
Que cabelos fulvos! Pareciam ouro!
Mas, por um instante ela empalideceu...
Que pressentimento em sua alma terna!
Que destino Deus traçou p’ro Filho seu?
E apertou-o ao peito e, enfim, adormeceu...
-Oh, divino quadro de beleza eterna!
(Poema inserido no livro
“Antologia do mais Além,
3ª. Edição, 1993, Editora
Espírita Paulo de Tarso.)
Sem dúvida que este poema só pode ser de Junqueiro. Estudei toda a sua obra e tem nela a marca singular do autor. É lindíssimo!Bendito Rizzini. Espero que esteja, só pode, num plano maravilhoso e que conheça pessoalmente o poeta, como é minha esperança um dia vir a fazer.
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